Diário do Alentejo

“Não podemos permitir que estes jovens [enfermeiros] deixem família e pátria por necessidade. Só por opção."

10 de fevereiro 2024 - 08:00
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Três Perguntas a Carolina Ribeiro, coordenadora da Direção Regional do Alentejo (DRA) do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP)

A propósito da recente tomada de posse para a coordenação da Direção Regional do Alentejo (DRA) do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) o “Diário do Alentejo” conversou com a eleita, Carolina Ribeiro, sobre as principais dificuldades com que a classe dos enfermeiros se depara, nomeadamente, na região, quais as lutas sindicais que se pretendem até ao final do seu mandato, em 2027, bem como de que forma se poderá estancar o contínuo aumento do número de enfermeiros que saem do País para trabalhar no estrangeiro, nomeadamente na Suíça, Espanha, Bélgica, França e Reino Unido.

 

Texto | José Serrano

 

Tomou posse, recentemente, como nova coordenadora da DRA do SEP. Quais as principais dificuldades com que a classe dos enfermeiros se depara, nomeadamente, na região?Na nova DRA valorizamos as conquistas dos últimos anos, mas reconhecemos os problemas que persistem e os desafios com que os enfermeiros estão confrontados. No setor privado e social, em crescimento, a carência de enfermeiros, os salários e a precariedade carecem de resposta. No setor público, o pagamento dos retroativos e a resolução das injustiças relacionadas com os pontos [para efeitos de progressão] continuarão a ter ajustada resposta. Contratar mais enfermeiros e vincular precários é exigência contínua; a revisão da carreira, que valorize e promova o desenvolvimento profissional e económico do trabalho dos enfermeiros está na agenda. Infelizmente, estas principais dificuldades, transversais a todo o território, são, também, uma realidade na nossa região.

 

Quais as lutas sindicais que se pretendem até ao final deste seu mandato, em 2027?É preciso reivindicar, mobilizar e lutar pela(s): alteração pontual da carreira de enfermagem; compensação do risco e penosidade, nomeadamente, através da aposentação, mais cedo, e da valorização do trabalho por turnos; 35 horas semanais e melhoria dos direitos laborais; admissão de mais enfermeiros com vínculos definitivos. Continuar a melhorar a resposta e a intervenção face aos problemas individuais e institucionais, incluindo a exigência do cumprimento da legislação sobre organização do tempo de trabalho. Intervir no reforço do Serviço Nacional de Saúde, público, universal e gratuito. Prosseguir com a articulação de reivindicações, processos e lutas com as estruturas do Movimento Sindical Unitário que o SEP integra, desde logo, pelo aumento dos salários, que permita fazer face ao agravamento do custo de vida e à perda do poder de compra, com o Sindicato dos Enfermeiros da Região Autónoma da Madeira e outras organizações profissionais da área da Saúde, bem como com estruturas internacionais.

 

É público o aumento do número de enfermeiros que sai do País para trabalhar no estrangeiro, nomeadamente, na Suíça, Espanha, Bélgica, França e Reino Unido. De que forma se pode estancar esta emigração da classe?Este contínuo aumento do recrutamento de enfermeiros portugueses por países europeus deve-se à falta de valorização dos enfermeiros em Portugal. Tanto a carreira, como o valor económico e social das intervenções de enfermagem não são reconhecidos. Os salários são extremamente baixos, o exercício de funções, em condições particularmente penosas, não é compensado e as perspetivas de desenvolvimento profissional são quase inexistentes. Estes países europeus reconhecem a qualidade da formação dos enfermeiros portugueses, pelo que devemos lutar para estancar a saída destes profissionais. Não podemos permitir que estes jovens deixem família e pátria por necessidade. Só por opção. 

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